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Um Coração no Inverno

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Mensagem por Valdeci C. de Souza Sáb Jun 30, 2012 7:16 pm

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Um Coração no Inverno é uma produção cinematográfica francesa de 1992 com direção de Claude Sautet que poderíamos chamar de uma história de amor. Ou sobre relacionamentos humanos, ou como a falta deste interfere na vida do indivíduo. Mas não se aprece a fazer conjecturas erradas ou a torcer o nariz a pensar que Claude Sautet realizou mais uma daquelas histórias água-com-açúcar para adolescentes enamorados ou para meninas suspirarem na sala escura do cinema. Até porque, com temática tão intrincada (em certo sentido, já que não estamos acostumados a esta abordagem adulta sobre o amor) seria esperar demais que este filme fosse direcionado a este público jovem. Para não ficar divagando demais sobre coisa nenhuma seria interessante apresentar os personagens principais e suas características para que possamos fazer uma análise sobre este belo filme. Sim, trata-se de um triângulo amoroso… Mas como eu disse anteriormente, não se apresse a fazer julgamentos.


Stéphane (Daniel Auteuil) é um especialista em conserto e fabricação de violinos. Dedica sua vida como luthier com afinco e paixão. É um sujeito refinado, com apurada sensibilidade musical e leva uma vida reclusa sem relacionamentos afetivos (mesmo que efêmeros). Seu círculo de amigos restringe-se ao seu sócio no ateliê, uma proprietária de uma livraria que o acompanha nos almoços executivos e com quem troca pequenas confidências sem relevâncias e seu professor de violino. Tanta dedicação ao seu ofício e desapego de afetividades humanas o leva a residir na própria oficina. Mesmo a relação com seu aluno/aprendiz são estritamente profissionais. Stéphane é o estereótipo do homem que se fecha em si mesmo sem expressar sentimentos (exceto pelo som de seus violinos). Por seu diletantismo Stéphane é quase um morto-vivo que não possui outras preocupações na vida que não seja sua arte. Um coração frio como o inverno.

Maxime (André Dussolier) é um homem refinado, ativo, bem resolvido na vida e atua como marchand na sociedade com Stéphane na oficina de violinos. Maxime é o oposto de seu sócio: Casado, com uma vida intensa e relacionamentos profundos. Permite-se, inclusive, a outras conquistas amorosas. Neste momento da história, está disposto a começar um novo relacionamento e a viver uma nova e grande paixão. Nada o detém de seguir em frente na conquista de novos clientes e mores. Poderia se disser, que ele luta pelo que deseja sem medo de sofrer as consequêrncias (muito menos de usufruir os bons momentos sem culpa). Não tem a mesma genialidade musical e artesanal de Stéphane, mas também não se sente inferior a isso. Aproveita a vida da melhor maneira possível sem receios de fracassos ou desilusões.

Camille (a belíssima Emmanuelle Béart) é uma jovem violinista que está prestes a ser reconhecida internacionalmente por seu talento musical. Livre, jovem, talentosa e bela Camile conquista admiradores por onde passa. Romântica e igualmente disposta a entregar-se de corpo e alma a uma grande paixão é o elo que une estes dois antagonistas no seu círculo. No início da trama é apresentada ao espectador como a “amante” de Maxime. Mas a troca de olhares entre ela e Stéphane dá o tom do que está por vir. Fica evidente que uma química se estabelece entre os dois. Como conciliar isso? Como lutar contra esta força que é o amor proibido? Como Stéphane vai lidar com este sentimento que a muito custo tentou evitar durante anos de um amadurecimento silencioso e recluso? Camile saberá lidar com a indiferença e a recusa? Muitas dúvidas e questionamentos que o desenrolar da trama vai esclarecer (ou não). Nada é muito explícito e o espectador é convidado a interpretar o que não é dito; a entender olhares; gestos e a ler nas entrelinhas os diálogos contidos e a falta de gestuais. Tudo com manda a cinematografia francesa.

Este é o triangulo deste romance singular. Máxime que ama Camille que se apaixona por Stéphane que não ama ninguém (ou finge que não ama… Ou não se permite amar…) Para falar a verdade, não fica claro qual o objetivo de Stéphan em fazer o jogo da conquista e depois simplesmente fazer-se de difícil e voltar-se para seu ostracismo. Com respeito à amizade de Maxime é que não foi já que diz, com todas as letras, que ele é somente seu sócio e não amigo. Provavelmente por medo da decepção, pelo desgaste da relação. Enfim… O roteiro de Claude Sautet, Jacques Fiesch e Jérôme Tonnerre dão pistas deste comportamento arredio de Stéphan durante o desenrolar da trama. Em uma passagem Stéphan e Maxime estão em um barzinho e assistem um casal discutindo a relação em altos brados numa mesa próxima. Em outra cena assiste uma briga de seu professor de violino com a esposa e fica apavorado em saber que, mesmo este casal tão enamorado em público possa ter um relacionamento tão tumultuado quando na intimidade.

Outro grande mérito desta produção é usar a trilha sonora como um personagem principal para contar esta história. Ou mais precisamente levar o espectador a “sentir” na pele o que os personagens estão sentido em determinado momento. Em algumas cenas podemos intuir o que virá a seguir só pelo tom e andamento da trilha sonora. Cada cena é pautada por uma música que demonstra o espírito dos seus personagens naquele exato momento (ou o que virá). No início, temas mais românticos e suaves para demonstrar o surgimento do amor. Depois a música espelha os ânimos de todos com a perspectiva de futuro (ou não) deste romance que não desenvolve e que fica no limbo a espera de uma decisão de seus envolvidos. Quando o amor flui (ou parece fluir) a música é alegre, vibrante e contagiante. Com o abandono a trilha sonora reflete toda a dor no dedilhar martelado do violino e as vibrações de suas cordas em total turbilhão. Toda esta amplitude de sentimentos e um único compositor: Maurice Ravel. Um gênio que soube entender a alma humana e, segundo dizem, Um Coração no Inverno a história de sua própria existência.

Um filme comovente com interpretações de uma sutileza que só os franceses sabem fazer. O trio de atores consegue transmitir todas as nuances deste tumultuado relacionamento. A beleza e interpretação de Emmanuelle Béart deixam o espectador com o coração na mão diante de todos os sentimentos que seu personagem viveu neste brilhante trabalho. Direção de arte perfeita e direção de atores igualmente. Um filme para ser revisto inúmeras vezes.

Abaixo cenas de Um Coração no Inverno. Trilha sonora de Maurice Ravel. Emocionante!


Valdeci C. de Souza
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